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Seria o frio o responsável?

Com a proximidade da última onda de
frio pensei no real valor de uma cama e banhos
quentes. Eu confesso que nunca gostei
de frio e sofro demais com ele: física e psicologicamente.
Não consigo pensar direito,
odeio andar cheia de roupas, o inverno parece
muito mais longo que o verão. Mas não
seria o frio o responsável pelas características
da nossa região?
Obviamente a imigração italiana e alemã
contribuíram sobremaneira para que as
tradições fossem mantidas, mas tem algo
que é peculiar da serra gaúcha: o senso de
comunidade. Será que toda a solidariedade
que nossa região sempre demonstra em
oportunidades determinantes para a rápida
recuperação das pessoas não tem o frio
como uma variável? Tenho a impressão que
sim. Demoramos um pouco para acolher as
pessoas que vem de outros lugares como se
da nossa família fossem, livre de desconfianças,
mas ao contrário do que acontece
em outras cidades, mesmo os recém-chegados
“de outros rincões” são recebidos com
comida (nossa especialidade) e roupa.
É um diferencial e tanto! Não seria o reflexo
das dificuldades que nossos antepassados
sofreram? Sempre ouço a história do
meu pai referindo que, por vezes, caminhava
sobre o gelo porque não tinha calçado
para 9 irmãos e quando ele fala isso é mais
uma peça de roupa, um cobertor que doo.
Esse senso de comunidade, de união, de
parcerias faz com que o desenvolvimento re

gional seja sempre lembrado também pelos
governos, mas ora... não é deles esse mérito.
Aliás, é a comunidade que impulsiona o
retorno político. Quando a comunidade faz,
acompanha as atividades e cobra resultados
o dinheiro público passa a ser complementar,
diferentemente do que acontece em outras
regiões do país.
Na capital gaúcha, o prefeito anterior
havia conclamado a população para uma
campanha de embelezamento da cidade e
os comentários me deixaram atônita: muitos
referiam o pagamento do IPTU como razão
ou justificativa para não participar. Longe de
mim afastar a responsabilidade de um ente
público sobre o gasto da arrecadação de
impostos, mas penso sempre que se tu cortas
a tua grama, não custa cuidar do canteiro
na frente da tua casa. E o retorno disso
não é somente a rua embelezada, é o teu
capricho em deixar todo o lugar onde passa
melhor do que quando tu encontraste.
É necessário perceber que com pouco
investimento se pode transformar a vida
de outro ser humano ou ser bichano. Basta
uma peça de roupa, um cobertorzinho para
os bichinhos, um pouco de água limpa ou
e até em uma palavra ou olhar a solidariedade,
o sentimento de “me coloco no teu
lugar”, “estou contigo”, pode aquecer corações
e almas.
O frio que tanto nos faz sofrer, seria fator
importante em relação a nossa sensibilidade
para com o outro?

Juliana Rebellatto Locatelli

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