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Essa tal liberdade...

Eu ainda estou em choque com as notícias dessa semana sobre o povo afegão. Sempre penso que opinar sobre uma realidade que não vivemos pode ser perigoso, mas confesso que ao ver aquelas cenas horrorosas no aeroporto de Cabul senti um misto entre indignação, pavor e tristeza.
Por que não lutaram nesses 20 anos em que os EUA deram apoio militar? Por que os EUA se retiraram de uma vez? Por que os talibãs não conseguem entender o mínimo sobre Direitos Humanos? Por quê? Por quê? Por quê? Eu e minha mania de resolver... Como canta Humberto Gessinger “Seria mais fácil fazer como todo mundo faz/ Sem sair do sofá, deixar a Ferrari pra trás”.
Realmente é fácil fazer isso em um país onde minha liberdade como ser humano (ainda) está assegurada, onde as leis superam o fanatismo religioso e são aplicadas - quase sempre - de forma correta.
São situações como essa que fazem com que eu pense sobre a minha realidade e como posso perder a liberdade aos poucos.
Um pouco de Direito, para não perder o costume, e História para relembrarmos as aulas: Thomas Hobbes na obra “O Leviatã” referia, de forma muito resumida, que sem um Estado, um Governo, uma Autoridade, existiria uma guerra de todos contra todos porque todos os seres humanos teriam direito a tudo e, pela escassez desse “tudo” passaríamos a guerrear permanentemente. Para resolver isso, cada pessoa cederia um pouco da sua liberdade para o Estado e ele, como soberano, asseguraria a paz e a defesa de todos.
Por essa razão, nem tudo nos é permitido. Na formação da sociedade parecida com o que vivemos hoje, esse pedacinho de liberdade pertence ao Estado, este sim, responsável por elaborar e aplicar as leis, cuidar de seus cidadãos. É com base nessa ideia de cuidado que realmente eu fico chocada ao pensar no sofrimento do povo afegão e no do povo brasileiro.
Por que o brasileiro? Vejamos: uma cidade pacata vem sofrendo crimes que não conhecia há algum tempo, boa parte ligada ao tráfico de drogas que, ao que parece, cresce dia após dia e o cidadão comum pensa que não é com ele, afinal, ele não usa drogas, os filhos não usam drogas, ele só trabalha e coloca comida na mesa, “esses marginais que se matem”... até que a cidade perde sua liberdade de ir e vir, o comércio começa a pagar percentuais para que não sejam roubados ou depredados e o Estado será incapaz de resolver uma situação que começou com uma fumaça e agora é um grande incêndio. Teu filho não foi assassinado, mas o amigo dele sim. Teu comércio de roupas não recebeu ameaças, mas o dono do bar da esquina, sim.
Estamos tão preocupados com o que não podemos controlar, com cortinas de fumaça que nos são colocadas diariamente, que esquecemos o que (ainda) podemos resolver. E assim... essa tal liberdade se perde e o Estado, que deveria agir para garanti-la tem outros interesses, outras intenções.
Sinto pelo povo afegão, mas e nós? Como vamos resolver nossos problemas como povo?

Juliana Rebellatto Locatelli

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