CARREGANDO

Busca

Não somos imortais

Você até pode ser gremista, mas sinto muito, não é imortal. Na prática diária da advocacia vejo muitas situações que poderiam ser evitadas se as pessoas compreendessem essa premissa. O ser humano pensa que sempre terá mais um dia, mais uma hora, mais uma chance de falar com aquele pai, com aquele filho. Talvez você, infelizmente, não tenha.
Não são raros os casos que chegam no escritório num emaranhado de confusões e mágoas. Lidamos com isso todos os dias e por isso digo: comunique-se! Emprestou dinheiro? Avise sua esposa, seu filho. De preferência, deixe um documento válido para que eles possam resolver essa situação. Adquiriu algum bem, fez empréstimo, fez seguro de vida, tem algum investimento em empresas? Fale, escreva, avise! Não espere estar à beira da morte para pensar nisso. Você parte; seus problemas, se não forem resolvidos, não. E não tem nada pior do que encarar uma família que passa a descobrir situações após o falecimento do ente, até então, querido.
Há instrumentos tão simples do ponto de vista jurídico e tão esclarecedores para que a partida seja sentida apenas pela sua ausência, não pela existência de tantos problemas. Faça um testamento. Fale com seus familiares sobre dinheiro, sobre bens, sobre negócios, e dívidas. Já estamos em 2020, esse tabu já foi superado. Não é vergonhoso tratar desses assuntos em família.
As novelas gostam de mostrar filhos que “querem” os bens dos pais, mas essa, em geral, não é a realidade. A verdade é que os filhos querem mesmo que os pais aproveitem a vida que construíram e ao vê-los partir, que saibam por onde começar a resolver as questões que restaram.
Garanto: não há situação que não tenha uma solução, desde que exista o conhecimento da existência do problema. Famílias perdem em não conversar de forma adulta sobre as questões da vida. Mágoas são causadas, famílias são despedaçadas porque o pai ou a mãe, num almoço de domingo, nunca disseram: “filhos, precisamos conversar”.
E mais! Famílias ficam totalmente desamparadas porque nunca se cogitou em assegurar que existiria recursos para após a morte. Você já conversou com um advogado sobre isso? Você já consultou um corretor sobre um seguro de vida, ou previdência? Tem algo para compartilhar com sua família? Tem perdão para pedir? Faça isso enquanto há tempo. Tempus fugit!

Thiago H. Burmeister

Últimas colunas